O Jornal Sociológico é uma publicação dos alunos do primeiro ano de jornalismo da UFG - Universidade Federal de Goiás, sendo atividade da disciplina Sociologia, sob orientação e colaboração do professor Nildo Viana.
Rádio Germinal
domingo, 1 de dezembro de 2013
sábado, 2 de novembro de 2013
Chamada de artigos para o dossiê temático:
GERAÇÕES: juventude e velhice na sociedade moderna
Org.: Isolda Belo (FUNDAJ/PE), Luís Antonio Groppo (UNISAL/SP), Nildo Viana (UFG/GO) e Revalino Antonio de Freitas (UFG/GO)
A
revista SOCIEDADE E CULTURA torna pública a chamada de artigos para o
dossiê temático “Gerações: juventude e velhice na sociedade moderna”,
organizado pelos profs. Isolda Belo (FUNDAJ/PE), Luís Antonio Groppo
(UNISAL/SP), Nildo Viana (UFG/GO), Revalino Antonio de Freitas (UFG/GO).
A publicação é prevista para o v. 17, n. 1, 1º semestre de 2014.
Serão
aceitos artigos escritos em português, inglês ou espanhol, que estejam
em conformidade com as normas da revista (disponíveis em
www.revistas.ufg.br/index.php/fchf), e que digam respeito ao tema
proposto pelo/a/s organizador/a/s, assim formulado:
As
gerações se encontram entre os temas em evidência na contemporaneidade e
o seu conceito comporta múltiplas significações. De acordo com o
“olhar” recortado de cada campo de conhecimento ou instituição, elas
adquirem contornos que lhes dão conformidade e permitem que sejam
identificadas, reconfiguradas, normatizadas, tendo como centralidade
temporal os ciclos de vida. Na sociologia, o esforço teórico para
apreendê-las como um objeto de investigação tem sido considerável, com
destaque para as reflexões teóricas de Karl Mannheim, que de certo modo
apresenta à sociologia uma conceituação mais próxima ao conhecimento
desse campo científico. Não obstante, do ponto de vista sociológico, o
debate teórico e conceitual se encontra em aberto, exigindo atenção e
rigor cada vez maior, na medida em que a complexidade da sociedade
contemporânea insere novos problemas, tornando mais fluidos os recortes
temporais dos ciclos de vida. Esse dossiê se propõe a continuar o
salutar debate em curso, a partir de duas fases distintas do processo
geracional: a juventude e a velhice. O tema da juventude vem ganhando
cada vez mais espaço nas discussões sociológicas. Ao lado da produção
mais antiga, novas abordagens e pesquisas passaram a ser realizar,
principalmente a partir dos anos 1960 e ganhando novo impulso a partir
do início do novo século, o que está relacionado com a mobilização
juvenil e estudantil gestada nesse período. As culturas e grupos
juvenis, suas lutas e manifestações sociais, suas condições de vida e
envolvimento com outros setores da sociedade, tais como escola, meios de
comunicação, políticas públicas, são alguns dos temas específicos mais
desenvolvidos nessa área. A velhice é a mais recente das gerações a se
inserir no campo de investigação sociológica. Sua irrupção resulta da
longevidade que tem caracterizado a sociedade contemporânea nas últimas
décadas, trazendo à tona a existência social de uma geração até então à
margem, e que tem ocupado um espaço crescente na estrutura etária,
trazendo novas necessidades e exigindo cuidados próprios de um ciclo de
vida que, em si, evoca a preservação dos valores, a memória e a tradição
de uma dada sociedade.
As contribuições
devem ser enviadas diretamente para os organizadores, através dos
e-mails: nildoviana@ymail.com e freitas@cienciasociais.ufg.br (ou
através do portal da revista).
Prazo para o envio: 20 de novembro de 2013.
Além
dos artigos para o dossiê, SOCIEDADE E CULTURA também recebe, em fluxo
contínuo, outras contribuições: artigos sobre temas diversos, notas de
pesquisa, resenhas de livros relevantes nas ciências sociais. Tais
textos devem ser enviados aos editores da revista, conforme os meios
indicados nas normas para submissão.
Convocatoria de artículos para dossier temático sobre
GENERACIONES: juventud y vejez en la sociedad moderna
Org.: Isolda Belo (FUNDAJ/PE), Luiz Antonio Groppo (Unisal/SP), Nildo Silva Viana (UFG/GO) e Revalino Antonio de Freitas (UG/GO)
La
revista SOCIEDADE E CULTURA torna pública la convocatoria de artículos
para el dossier temático “Generaciones: juventud y vejez en la sociedad
moderna”, organizado por los profes. Isolda Belo (FUNDAJ/PE), Luiz
Antonio Groppo (Unisal/SP), Nildo Viana (UFG/GO) Revalino Antonio de
Freitas (UFG/GO). La publicación está prevista para el volumen v. 17,
n. 1, 1º semestre de 2014.
Serán aceptados artículos escritos en
portugués, inglés o español, que estén en conformidad con las normas de
la revista (consultar en: www.revistas.ufg.br/index.php/fchf), y que se
circunscriban al tema propuesto por los organizadores, así formulado:
Las
generaciones se encuentran entre los temas en evidencia en la
contemporaneidad y su concepto comporta múltiples significados. Bajo un
“mirar” recortado en cada campo del conocimiento o institución, ellas
adquieren contornos que les dan conformidad y permiten que sean
identificadas, reconfiguradas, normatizadas, teniendo como centralidad
temporal los ciclos de la vida. En la sociología, el esfuerzo teórico
para aprehenderlas en cuanto objeto de investigación, ha sido
considerable, con énfasis para las reflexiones teóricas de Karl
Mannheim, que de cierto modo presenta a la sociología una
conceptualización más próxima al conocimiento de esa campo científico.
Sin embargo, el debate teórico y conceptual se encuentra abierto,
exigiendo atención y rigor cada vez mayor, en la medida en la
complejidad de la sociedad contemporánea insiere nuevos problemas,
tornando más fluidos los recortes temporales de los ciclos de la vida.
Este dossier, se propone continuar el saludable debate en curso, a
partir de dos fases distintas del proceso generacional: la juventud y la
vejez. El tema de la juventud viene ganando cada vez más espacio en las
discusiones sociológicas. Al lado de la producción más antigua, nuevos
abordajes e investigaciones pasaron a ser realizadas, principalmente a
partir de los años 1960 para luego ganar impulso a partir de inicio del
nuevo siglo, y que está relacionado con la movilización juvenil gestada
en ese periodo. Las culturas y grupos juveniles, sus luchas y
manifestaciones sociales, sus condiciones de vida y envolvimiento con
otros sectores de la sociedad, tales como la escuela, medios de
comunicación políticas públicas, son algunos de los temas específicos
más desarrollados en esa área. La vejez es la más reciente de las
generaciones a incorporarse en el campo de la investigación sociológica.
Su irrupción resulta de la longevidad que ha caracterizado a la
sociedad contemporánea en las últimas décadas, tornando visible la
existencia de una generación hasta entonces al margen, y que ha ocupado
un espacio creciente en la estructura etaria trayendo nuevas necesidades
y exigiendo cuidados propios de un ciclo de vida que, en sí, evoca la
preservación de los valores, la memoria y la tradición de una dada
sociedad.
Las contribuciones deben ser enviadas
directamente para los organizadores a través de los e-mails:
nildoviana@ymail.com y freitas@cienciassociais.ufg.br. (o a través del
sitio http://www.revistas.ufg.br/index.php/fchf)
Plazo para envío: 20 de noviembre de 2013.
Además
de los artículos para el dossier, SOCIEDADE E CULTURA también recibe,
en flujo continuo, otras contribuciones: artículos sobre diversos temas,
notas de investigación, reseñas de libros relevantes en las ciencias
sociales. Tales textos deben ser enviados a los editores de la revista,
conforme los medios indicados en las normas de edición.
Call for papers for thematic dossier:
GENERATIONS: youth and old age in modern society
Org.:
Isolda Belo (FUNDAJ/PE), Luiz Antonio Groppo (Unisal/SP), Nildo Silva
Viana (UFG/GO) and Revalino Antonio de Freitas (UFG/GO)
SOCIEDADE
E CULTURA (CULTURE AND SOCIETY) publicly announces a call for papers
for the thematic dossier " Generations: youth and old age in modern
society”, organized by the scholars Isolda Belo (FUNDAJ/PE), Luiz
Antonio Groppo (Unisal/SP), Nildo Silva Viana (UFG/GO) and Revalino
Antonio de Freitas (UFG/GO)
The v. 17, n. 1, is expected to be released by early 2014.
Articles
written in Portuguese, English or Spanish are accepted in conformity
with the journal submission guidelines (available in
www.revistas.ufg.br/index.php/fchf), in accordance to the theme proposed
by the organizers, as follows:
The generations are among the
topics highlighted in the contemporaneity and its concept involves
multiple meanings. According to the "look" cut off from each field of
knowledge or institution, they acquire contours that give them
conformity and allow them to be identified, reconfigured, normalized,
and having the life cycles as its temporal centrality. In sociology, the
theoretical effort to understand it as an object of research has been
considerable, with emphasis on the theoretical reflections of Karl
Mannheim, which somehow presents to sociology a conceptualization closer
to this scientific field. However, from the sociological standpoint
this conceptual and theoretical discussion remains open, requiring
attention and increasing accuracy, to the extent that the complexity of
contemporary society brings new problems, making more fluid the temporal
approaches of life cycles. This dossier aims to continue this salutary
debate, from two different stages of the generational process: youth and
old age. The Youth is gaining more and more space in sociological
discussions. Along with the oldest production, new approaches and
researches began to be carried out, mainly from the 1960s and gaining
new momentum from the beginning of the new century, which is related to
youth and student mobilization gestated during this period. Cultures and
youth groups, their struggles and social manifestations, their living
conditions and involvement with other sectors of society, such as
school, media, public policy, are some of the more specific themes
developed in this area. Old age is the most recent generation category
to enter the field of sociological research. Its irruption is the result
of longevity that has characterized contemporary society in recent
decades, bringing to the fore the social existence of a generation that
had been left, and it has occupied an increasing space in the age
structure, bringing new needs and requiring proper care of a lifecycle
which itself evokes the preservation of values, memory and tradition of a
given society.
Contributions should be sent directly
to the organizers via e-mail: nildoviana@ymail.com and
freitas@cienciassociais.ufg.br (or at journal’s website
http://www.revistas.ufg.br/index.php/fchf)
Deadline for submission: November 20th, 2013.
SOCIEDADE E CULTURA (CULTURE
AND SOCIETY) is an open access, peer-reviewed journal published by
Faculdade de Ciências Sociais of the Universidade Federal de Goiás,
Brazil. S&C is published in both print and online versions.
In
addition of papers for the dossier, the journal is continuously
receiving other contributions: papers on various subjects, research
notes, and reviews on relevant books in social sciences. Papers must be
sent to the journal editors according to submission guidelines (see at:
www.revistas.ufg.br/index.php/fchf).
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
Curso "Autogestão Social"
O curso de extensão à distância "Autogestão Social" será realizado de setembro a dezembro de 2013. O coordenador e professor responsável é Nildo Viana (UFG), contando com a colaboração dos professores Edmilson Marques (UEG), Leonardo Proto (UEG) e Maria Angélica Peixoto (IFG) e dos estudantes Alessandro Macedo Barbosa (UFG) e Gabriel Teles Viana (UFG). O curso será realizado sob forma virtual, utilizando a plataforma Moodle e seus recursos (fóruns, chat, arquivos, vídeos, etc.) e terá carga horária de 64 horas. O curso será dividido em quatro módulos. Abaixo mais alguns detalhes do curso:
PROPOSTA DE CURSO DE EXTENSÃO À DISTÂNCIA:
Autogestão Social
Período: De 02 de setembro a 20 de dezembro de 2013
Forma: através da Plataforma Moodle
Carga Horária: 64 horas.
Valor: R$ 50,00
Vagas: 60
Requisitos: Conexão com internet, disponibilidade de horário (4 horas semanais), domínio mínimo de computador (digitação, uso da internet).
Pré-Inscrição: de 06 até 20 de agosto de 2013.
Inscrição: de 20 de agosto até 02 de setembro.
Pré-inscrição, Inscrição e mais informações, clique aqui.
Objetivos: O curso tem como objetivo proporcionar um debate em torno da autogestão social, buscando trabalhar o conceito de autogestão, algumas das principais teorias da autogestão, algumas das mais importantes experiências históricas, a relação entre autogestão e outras formas de organização, entre outras questões complementares e derivadas que são importantes para compreender esta temática.
Justificativa: A autogestão é um tema amplamente discutido nos dias atuais, sob perspectivas diferentes. Para alguns, a autogestão é uma forma de gestão de empresas; para outros é uma forma cooperativa na qual os trabalhadores gerem sua produção; já outros pensam que é uma forma radicalmente diferente de organização social, um projeto de sociedade pós-capitalista. O estudo e o aprofundamento do debate em torno destas questões se tornam fundamentais, pois sem uma consciência da realidade qualquer atividade política pode se revelar trágica, ou seja, ela pode ter um objetivo, mas o meio que se busca para atingi-lo acaba produzindo outra coisa que não se esperava. Daí a necessidade de aprofundamento do debate sobre as questões fundamentais de nossa época, entre as quais a questão da autogestão social.
Metodologia: o curso se realizará em 04 meses e será realizado através de exposição e espaço para debates com os participantes sob forma virtual, através da Plataforma Moodle. Nesse ambiente virtual, diversos recursos serão utilizados, tais como textos, vídeos, fóruns de debate, chats, wiki, entre outras. O curso será ministrado a partir de uma bibliografia básica que será objeto de discussão em fóruns e chats, tendo quatro módulos, discutindo eixos temáticos relacionados e complementares. A equipe executora será composta por um professor, responsável geral, e mais... professores que irão contribuir nas discussões e apoio aos estudantes, além de incentivar o debate e outras formas de atuação. A avaliação será realizada através de quatro questionários para cada módulo ou um ensaio de dez a vinte laudas, a ser escolhido pelo aluno.
MÓDULOS:
· Teorias da Autogestão
· Experiências Autogestionárias.
· Autogestão e outras formas de organização.
· Organização dos Trabalhadores, Conselhos e Autogestão Social.
· Experiências Autogestionárias.
· Autogestão e outras formas de organização.
· Organização dos Trabalhadores, Conselhos e Autogestão Social.
quarta-feira, 3 de julho de 2013
Socialização do Povo Muçulmano
O Islã é a religião que mais cresce no mundo, e estima-se
que no Brasil existem entre 70 a 300 mil muçulmanos. São vários os fatores de
migração muçulmana; a família de Mariam Habash, por exemplo, veio por motivo de
fuga dos conflitos árabe-israelense. Nascida na Palestina, Mariam veio recém-nascida,
com seus pais e sua irmã, e desconheciam das tradições cristãs do ocidente.
Extremamente tradicionais, tiveram dificuldade em se adaptar aos costumes da
sociedade brasileira. Não obstante, algumas tradições consideradas obrigatórias
por sua religião foram mantidas.
Mariam pediu para que não fosse
exposta, então a entrevista foi feita com sua irmã, Najat Marouf Habash Hammad, muçulmana
nascida no Brasil.
· Como seus pais lhe contam a vida na Palestina?
Sempre
que meus pais falavam da Palestina eu imaginava tudo diferente. Mas quando fui
pra lá, realmente conheci a verdadeira Palestina, super encantadora. Tudo
realmente diferente do brasil e dos nossos costumes. Por exemplo, as mulheres
lá tem mais valor que as brasileiras. O marido é obrigado a dar tudo à ela,
mesmo que a mulher trabalhe fora, o dinheiro dela não é obrigatoriamente
destinado à casa. O marido tem que “bancar” tudo. Lá, por segurem muito o
islamismo, nem homens e nem mulheres conhecem o adultério, por ser pecado.
Raramente vemos ladrões pois as penas são crueis e realmente são castigados.
·
Em que época vieram? Por que?
Meus
pais vieram no ano de 1968, pois antigamente eram muito pobres e não havia
muitos empregos, o fato de haver muitas disputas de terras na região também
ajudou.
·
Você estudou em escolas especificamente para
muçulmanos?
Estudei
em escolas normais, pois não havia escolas para muçulmanos ainda.
·
Qual foi primeira empressão da escola normal?
Como lidavam com seus costumes?
Era
meio complicado, meus pais não aceitaram que tivéssemos amigos, meninas não
podem conversar com rapazes, não podem se misturar.Sabíamos que um dia íamos
nos casar com árabes e nunca com brasileiros. Nunca iríamos namorar com
brasileiros(risos). Às vezes nossas amigas não entendiam isso , já outras
achavam normal. Tinham rapazes que até respeitavam e achavam interessante.
·
Uma hora ou outra você teria que lidar com os
costumes dos brasileiros, quando tivesse contatos fora da família, como foi
essa adaptação?
Nosso
contato foi
super natural e normal. Amamos o Brasil e respeitamos tudo. Mesmo nossos
costumes sendo diferentes, respeitamos e somos respeitados.
·
Hoje, qual a sua relação com o Islamismo?
Casamento, trabalho, orações... É tradicional ou as culturas se mesclam?
Hoje
sigo o Islã 100%, dou graças a Deus por meus pais nos terem criado nessa
religião e terem nos ensinado os costumes árabes, pois chega uma hora que você
crece e compara os dois costumes e se reconhece em um. Muitos resolveram seguir
os costumes brasileiros, como minha irmã Mariam Habash, mas eu não. Sigo e
tenho muito orgulho de ser árabe. Casei com um árabe muçulmano, tenho filhos e
até me mudei para a Palestina. Estou aqui à passeio, mas amo lá. Cheguei a me
graduar aqui, passei em três concursos públicos, cheguei a lecionar por mais de
3 anos, mas optei por morar na Palestina.
É
interessante as pessoas conhecerem vários costumes, tradições e religiões e
depois escolher um, por livre e espontanea vontade, nunca por pressão. Eu me
reconheci no Islã e sifo por convicção. E nunca as pessoas julgarem as outras
pelo que veêm na TV, pois a TV “mente” (conheçam antes de julgar).
Mesmo
com a ausência das respostas da irmã mais velha, por motivos de pessoalidade, podemos
afirmar que houveram dois tipos de processos de socialização, um em que Mariam
veio ao Brasil e se adaptou à forma de vida do país e às suas tradições, enquanto
Najat decidiu por voltar ao país de origem e segue fielmente o Islamismo.
Por: Ana Paula Holzbach, Aymée Torres, Caroline
Alvares, Fausto André, Laura Célia Carvalho, Letícia Antoniosi. Matheus Filipe
e Tiago Madureira.
Socialização Universitária
Ailton Sousa, Denise Pires, Érica Jeffery, Natália
Esteves e Pedro Ferreira
Felicidade!
Passei no vestibular
Mas a faculdade
É particular
Particular!
Ela é particular
Particular!
Ela é particular
Livros tão caros
Tanta taxa prá pagar
Meu dinheiro muito raro
Alguém teve que emprestar
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar
O meu dinheiro
Alguém teve que emprestar
Morei no subúrbio
Andei de trem atrasado
Do trabalho ia prá aula
Sem jantar e bem cansado
Mas lá em casa à meia-noite
Tinha sempre a me esperar
Um punhado de problemas
E criança prá criar
Para criar!
Só criança prá criar
Para criar!
Só criança prá criar
Mas felizmente
Eu consegui me formar
Mas da minha formatura
Não cheguei participar
Faltou dinheiro prá beca
E também pro meu anel
Nem o diretor careca
Entregou o meu papel
O meu papel!
Meu canudo de papel
O meu papel!
Meu canudo de papel
E depois de tantos anos
Só decepções, desenganos
Dizem que sou um burguês
Muito privilegiado
Mas burgueses são vocês
Eu não passo de um pobre coitado
E quem quiser ser como eu
Vai ter é que penar um bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
Um bom bocado!
Vai penar um bom bocado
(Martinho da Vila, “O Pequeno Burguês”)
Ao longo deste primeiro
semestre de 2013, a turma de calouros do curso de Jornalismo da Universidade
Federal de Goiás (UFG) embarcou em uma montanha-russa de acontecimentos. Não
bastasse a própria entrada na universidade em si, os novos rostos, as novas
amizades, os novos professores, a despedida do Ensino Médio, o distanciamento
dos amigos que escolheram outros cursos ou que não conseguiram êxito no
vestibular, a nova rotina matutina, o novo trajeto no caminho de casa até o
campus, enfim, não bastasse todo esse conjunto de mudanças, esses jovens
aspirantes a jornalistas vivenciaram: uma reestruturação do Centro Acadêmico;
eleições para coordenador do curso; eleições para reitor da universidade;
discussões acerca de eventuais mudanças na grade curricular do curso; a mudança
do nome da faculdade, que deixará de se chamar Faculdade de Comunicação e
Biblioteconomia (FACOMB) para se chamar Faculdade de Informação e Comunicação
(FIC); protestos contra o aumento das tarifas do transporte público em Goiânia;
a solidariedade e o engajamento dos colegas nas manifestações contra o aumento
da tarifa do transporte público, alguns tendo sido feridos e até mesmo presos em
função dos embates contra as tropas de choque das polícias; manifestações
públicas nacionais que levaram milhões às ruas – movimento semelhante, mas ainda
mais arrebatador do que o das “Diretas Já” de 1984, quando a maioria desses
calouros nem sonhava nascer. Some-se a tudo isso os altos e baixos das
disciplinas que cursaram neste semestre, o desânimo de alguns, a desistência e
posterior desligamento de outros. Como estaria o imaginário desses calouros?
Como entender o seu comportamento diante de todas essas mudanças? Os parágrafos
e diálogo a seguir procuram munir o leitor para responder a essas e outras
perguntas, provocando-o, levando-o à reflexão e a novos questionamentos a
respeito da problemática da socialização de calouros no contexto do mundo
universitário.
![]() |
Alunos do
primeiro período de Jornalismo da UFG em momento de socialização durante visita à Fazenda Babilônia, Pirenópolis. |
Ensino Fundamental,
Ensino Médio, Ensino Superior e mercado de trabalho. Antiguidade Clássica, Idade
Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Propositadamente ou não, a nomeação
utilizada na categorização oficial das diferentes etapas da educação brasileira
é, sim, valorativa. Uma das extrapolações possíveis seria a analogia entre tal
classificação e aquela comumente aplicada à divisão da História da humanidade.
Do Ensino Fundamental, extraem-se os fundamentos greco-romanos do pensamento
intelectual do Ocidente. Ao atravessar o Ensino Médio, ilude-se a adolescência
com as sombras de um pensamento pronto e utilitário, cujo objetivo único é o
sucesso no competitivo vestibular. Chegando ao Ensino Superior, convida-se a
juventude a trazer à luz o seu conhecimento encaixotado, desafiando-a a pensar
por si mesma. Sapere aude! Um período de transição por excelência, o
Ensino Superior prepara o jovem para o cobiçado mercado de trabalho. Fim da
História: contemporâneos da vida adulta, a formação de uma família, a conquista
de trabalho, bens e um relativo sucesso profissional mostram-se como o fim da
linha socializante de todo Homo sapien sapiens inserido em um contexto
capitalista.
Alegadamente o único ser vivo que tem consciência de sua
própria consciência, o ser humano segue o roteiro acima descrito sem muitos
questionamentos. A clássica tríade “Quem sou? De onde vim? Para onde vou?” soa
como um estranho sussurro aos ouvidos do homem ensurdecido pelos ruídos das
máquinas. Sua visão está anuviada pela poluição das chaminés e escapamentos.
Suas mãos deixaram o calor do abraço fraterno e da luta que move a História:
estão por demais ocupadas a bailar pela frieza dos teclados, curtindo e
compartilhando um entretenimento imobilizador. Seu gosto é ditado por outrem.
Seu faro não mais detecta a mais mal cheirosa das injustiças. Forçado a
perpetuar sua menoridade kantiana, o homem rende-se à reprodução de uma lógica
que não lhe é própria, mas que se oferece com tentadora e, por vezes,
irresistível naturalidade. Rende-se, sim, mas não sem dar-se à batalha: o
conflito, nesse contexto, é inevitável; a dúvida, esclarecedora; o
questionamento, libertador.
Um cenário nada esperançoso, cujos ares
naturalizantes provocam certa revolta em degluti-lo. Adicto capitalista, o homem
contemporâneo prefere ceder à alucinógena sensação de conforto, ordem e paz, a
ter que se rebelar contra a repressiva e coercitiva lógica que o algema, que o
coage. A abstinência emancipadora parece um caminho pedregoso e distante, não
mais uma alternativa concreta à competição, à mercantilização e à burocratização
reinantes no pensamento moderno. Quem estaria disposto a romper os grilhões
socializantes da infantilizadora lógica da aprovação/reprovação? Quem estaria
disposto a expor-se à ridicularização, à crítica, à condenação, ao castigo, ao
ostracismo e até à violência física para contestar tais lógicas? Parece ainda
haver esperança, haja vista as manifestações públicas de descontentamento que se
desencadearam nas últimas semanas no Brasil, levando milhões a inúmeras capitais
e cidades interioranas brasileiras. Tal esperança parece poder ser depositada na
juventude, especialmente na juventude universitária, aquela que, apesar de
render-se à lógica competitiva do vestibular, dispõe-se a pensar “fora da
caixa”, numa reinvenção iluminista diária. Relativamente distante do
embebecimento provocado pela inebriante compulsão consumista formadora de
patrimônios faraônicos, a juventude atravessa o pântano existencialista e
potencialmente transformador da lógica socializante capitalista.
Em
2013, cerca de 7 milhões de jovens brasileiros aspiram a vagas universitárias.
Uma mistura heterogênea composta por fases mais ou menos amadurecidas, mais ou
menos politizadas, mais ou menos socializadas, por vezes homogeneizadas como
massa, massa de modelar, massa manipulável. Cada um deles, por influências que
lhes são histórico-particulares, está mais ou menos apto a vencer a sedução
axiológica do funk, do arrocha, do sertanejo universitário, do estrelismo
fugaz das redes sociais. Mais ou menos reprimidos/coagidos pelos agentes da
socialização (família, escola, vizinhos, meios de comunicação, leituras, etc.),
os jovens que obtiverem “sucesso” no vestibular adentrarão as portas da
universidade – um mundo desconhecido, um novo mundo a descobrir e
explorar/povoar. Na universidade, renascem os seus questionamentos da
adolescência, rasga-se o véu que os separa de sua sede epistemológica, sacia-se
a sua fome de saber, ilumina-se o que estava à sombra do tabu e das proibições,
canaliza-se a sua agressividade para os protestantes movimentos politizadores e
sociais. “Carpe, carpe” – urge o sussurro dos poetas mortos, dos que
idealizaram e dos que idealizam a resistência, a revolução, a emancipação.
No samba axionômico de Martinho da Vila, entram em conflito o mito da
felicidade do vestibulando (aprovação no vestibular) e sua dura realidade
social. O conflito do jovem que entra em uma universidade, mas que,
paradoxalmente, precisa pagar para permanecer ali, para garantir a pretensa
universalidade da instituição. O conflito do jovem que não tem dinheiro para
pagar o que, na verdade, lhe seria um direito, e que, compulsoriamente, vê-se
obrigado a uma vida de endividamento. Endividamento não só para pagar as
mensalidades, mas também para saldar as contas de casa, para sustentar a
prematura paternidade. Endividamento e trabalho, emprego, ou melhor,
sub-emprego. Fragilidade e dependência diante de uma realidade de subúrbio
carente e de um transporte público decadente. Ausente na formatura, mais uma vez
em função da falta de dinheiro, não teve a honra de receber o suado diploma das
mãos do diretor. Tantas decepções e desenganos para, uma vez formado e tendo
alcançado alguma estabilidade financeira/profissional, ser rotulado como
“burguês” ou “privilegiado”. Mas, ao final do poema, as particularidades de sua
história o levam à auto-reflexão e consequente auto-afirmação reconhecedora da
realidade socializante capitalista: “Eu não passo de um pobre coitado / E quem
quiser ser como eu / Vai ter é que penar um bocado”.
Estaria o jovem
universitário preparado para explorar esse novo mundo? Quais as dificuldades que
ele encontraria diante da realidade socializante em que se insere? Quais os
percalços teria ele enfrentado em sua trajetória “atlântica” rumo ao além-mar
universitário? Que pressões ainda sofre por parte de seu núcleo familiar?
Estaria ele sujeito a pressões por parte das autoridades universitárias? Sua
identidade estaria ameaçada pela repressão/coação dos colegas universitários?
Sua afeição por este ou aquele grupo determinaria sua trajetória estudantil?
Teria ele escolhido “o curso certo” ou, refraseando o clichê, o curso de seu
rio-vida estaria realmente de acordo com aquilo que lhe é próprio e natural
enquanto indivíduo? Ou suas escolhas teriam sido resultado de
repressões/coações, alegadamente atribuídas como “naturais” ou “certas”,
servindo, na verdade, à lógica familiar (e, por extensão, à lógica capitalista),
castrando sua autonomia, suas opções, suas liberdades individuais? Seria a
universidade apenas um ensaio para o que há de vir, isto é, uma série de
repetições mecanizadoras que preparariam o jovem para o seu futuro como
profissional? Ou a universidade teria esse papel revelador e libertário?
Socialização na UFG
O processo de socialização trabalha a relação
indivíduo-sociedade de forma contínua e dinâmica, ou seja, as ideias e valores
estabelecidos pelo coletivo passam a constituir o sujeito. Tal elo se dá nos
primórdios da infância, constituindo a socialização básica. Entretanto, ao longo
da vida, ao se deparar com situações novas e diversas que demandam adaptação, o
indivíduo inicia o processo de ressocialização, que se relaciona à preparação
para carreira profissional e responsabilidades sociais. A juventude, considerada
o “tempo das mudanças”, é o momento de arriscar e experimentar escolhas, cabendo
à ida para universidade, um importante desafio na vida do ser humano.
Os
primeiros contatos com a universidade são de grande valia para a formação
acadêmica do calouro, já que estudos revelam que estudantes que apresentam maior
facilidade de integração à vida universitária, têm mais chances de crescimento
intelectual e pessoal se comparados àqueles que encontram dificuldade de
adaptação à nova realidade. Assim, ajustar-se à academia participando de
atividades sociais e desenvolvendo relações interpessoais satisfatórias permite
uma socialização com os indivíduos desse novo contexto, corroborando com o
professor Nildo Viana, que afirma “que a socialização é o processo no qual, por
um lado, o indivíduo se torna um ser social e, por outro, se torna um indivíduo
integrado em determinadas relações sociais”.
O acesso à universidade
implica em uma série de transformações nas redes de amizade e de apoio social
dos jovens estudantes, competindo à comunidade acadêmica a ação de oferecer
atividades que promovam a socialização entre os alunos e a integração deles no
meio universitário.
Na FACOMB, além das atividades acadêmicas inerentes
à apresentação das disciplinas aos ingressos, foram oferecidas inúmeras
oportunidades de entretenimento e informação a estes durante a “Semana de
Integração do Calouro”. Apresentação do perfil das profissões, encontros com
membros das entidades estudantis, conversas entre estudantes, professores e
coordenadores dos cursos, foram algumas das ações desenvolvidas. O tradicional
“Show de Calouros” encerrou a programação, proporcionando a convivência
harmônica entre calouros e veteranos dos cursos de Jornalismo, Publicidade e
Propaganda, Relações Públicas, Biblioteconomia e Gestão da Informação.
Henrique Gebran, acadêmico do 1º período de Engenharia Mecânica da UFG,
considera o habitual trote como o primeiro momento de integração dos alunos ao
ambiente universitário: “o trote é um momento de socialização em que conhecemos
nossos veteranos e alguns dos colegas com quem iremos conviver nos próximos
anos”, afirma. Apesar de relatar não ter enfrentado dificuldades durante a fase
de socialização na universidade, o entrevistado declara que a liberdade
proporcionada por esta, e antes controlada no ensino médio, ajuda no
amadurecimento dos estudantes: “Essa questão nos permite fazer muitas escolhas,
e todas têm consequências, com isso, aprendemos a tomar decisões e nos tornarmos
mais responsáveis”.
A promoção de eventos que permitem a interação entre
unidades acadêmicas distintas, como festas, ensaios de bateria e
treinamento/competição em diversas modalidades esportivas é rotineira. A mãe de
Henrique, afirma que a família além de apoiar a nova rotina do estudante, deve
ter curiosidade em conhecer as relações vividas dentro do ambiente universitário
“existe preocupação porque ele está entrando em um ambiente novo”, demonstrando
assim uma ligação entre o ambiente universitário e o núcleo familiar.
A
socialização entre alunos e instituição é o que faz a universidade, já que o
indivíduo passa a ser instrumento de manutenção e transformação da socialização,
pois o socializado é também quem socializa.
- VIANA, Nildo. Introdução à Sociologia. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p. 105 - 118.
- COSTA, Fabiano. Enem 2013 terá 7,1 milhões de candidatos, diz Mercadante [Internet]. Brasília,G1. Publicado em: 07/06/2013. Visitado em: 29/06/2013. Disponível em: http://g1.globo.com/educacao/enem/2013/noticia/2013/06/enem-tera-71-milhoes-de-candidatos-diz-mec.html
A ótica de Durkheim sobre o suicídio
A ótica de Durkheim sobre o suicídio
Já em
um grupo islâmico, o suicídio é visto como um ato heroico. Para a Jihad
Islâmica da Palestina - um grupo militante palestino, considerado terrorista
pelos governos dos Estados Unidos, da União Européia, do Reino Unido, do Japão,
da Austrália e de Israel, que prega a constituição do Estado islâmico na
Palestina em detrimento do Estado judeu - quem se propõe a se esforçar em
nome de sua religião morrendo por ela como homem-bomba, tem um lugar reservado
na paraíso. Esse ato é denominado jihad, e é um ato de suicídio.
Émile Durkheim (1858-1917) é considerado o pai da sociologia,
empenhando-se ao longo de sua vida para consolidá-la como ciência autônoma e
específica. Seu esforço contribuiu para que a sociologia se tornasse uma
matéria acadêmica. Foi fortemente influenciado pelo positivismo e
conservadorismo de Auguste Comte. O pensador era defensor assíduo da utilização
dos métodos das ciências naturais na análise da sociedade, sustentou a ideia de
neutralidade de valores e instituiu os "fatos sociais" como o objeto
de estudo da sociologia. Um dos seus principais estudos foi acerca do suicídio.
Mas ora, o que Durkheim considerava como suicídio?
Para ele, suicídio era qualquer ato direto ou indireto que
uma pessoa é capaz de fazer contra si, tendo como finalidade a própria morte.
As causas para tal comportamento são diversas, e quando uma pessoa se mata, não
é fácil descobrir o que exatamente a levou a isso.
Durkheim vem mostrar, então, que as causas para tal atitude
não tem a ver somente com o indivíduo, mas sim com uma série de fatores
sociais. Estes repercutem no indivíduo, levando-o a tirar sua própria vida.
Porém, o modo como esses fatores refletem depende muito do modelo de sociedade
que se considera.
Organização social, natureza dos indivíduos que a compõem e
acontecimentos que perturbam a harmonia do funcionamento coletivo são fatores
que influenciam gritantemente nas taxas de suicídio de uma sociedade. Como cada
uma possui suas peculiaridades, os fatores sociais vão agir de modo distinto.
Assim, diferentes sociedades vão ter diferentes taxas de suicídio. Elas se
manterão constantes e uma alteração só ocorreria caso houvesse uma mudança
muito brusca na organização do corpo social.
Durkheim
classificou o suicídio em três tipos: Egoísta, Anômico e Altruísta. No suicídio
egoísta, há o isolamento excessivo de uma pessoa, onde há enfraquecimento dos
laços sociais, da identificação com o próximo e a da solidariedade individual
para com o coletivo. Já no suicídio anômico, acontece em situações de desordem
social, quando há anormalidade nos valores e tradições de referencia são
abalados. E no suicídio altruísta, que é a antítese do suicídio egoísta,
acontece quando há apego excessivo, quando a identificação com o grupo é tão
forte que o individual deixa de ter importância e há grande identificação do
pessoal com o coletivo.
Como
citado na entrevista dada pela socióloga Telma Nascimento, a qual está logo abaixo, casos de suicídios em
tribos indígenas têm sido registrados e mostrados na mídia brasileira e
internacional. Dentre as tribos brasileiras, a Guarani-Kaiowá, localizada no
Mato Grosso do Sul, é a que tem estado em maior evidência. E não é por menos.
De acordo com a CIMI, Conselho Indigenista Missionário, essa tribo detém um dos
mais altos índices de suicídio no país e no mundo. Ainda segundo a CIMI, a cada
6 dias, um jovem da tribo Guarani-Kaiowá tira a sua própria vida. Dentre os
motivos citados pelos indígenas estão ausência de tratamentos para doenças, a
falta de perspectiva de territórios demarcados e seu confinamento em reservas.
Nesse
caso o suicídio é usado como uma fuga para problemas que essa sociedade
enfrenta. Todavia, se analisássemos este ato com ‘’olhos cristãos’’ o
condenaríamos. No cristianismo o suicídio é pecado, sem salvação, já que
segundo a religião ninguém tem o direito de tirar a sua vida, ou a do outro,
somente Deus tem esse poder.

Vemos aí que cada cultura tem a sua perspectiva sobre determinado comportamento, logo, não se pode julgar qual é certa e qual é errada. Devemos olhar para tais como possíveis alternativas de modos de pensar.
O suicídio mostra muitos dados estatísticos que sustentam as propostas de Durkheim, sobre os possíveis motivos que levam uma pessoa ao suicídio. Apesar de muitos críticos contestarem estes dados, sem dúvida, Durkheim foi um dos pioneiros no estudo sobre esse tema tão questionado e estudado no mundo inteiro.
Temos abaixo, a entrevista realizada.
Telma Nascimento
“Durkheim localiza na
sociedade as razões que acarretam nesse tipo de comportamento suicida”
Telma Nascimento é Doutora em Sociologia e Ciências Políticas (Universidad Complutense de Madrid - Título reconhecido no Brasil pela Unicamp como Doutora em Ciências Sociais), e ela concedeu essa entrevista sobre os aspectos que mais devem ser considerados acerca do suicídio de acordo com a visão Durkheimiana.
GRUPO – Como a sociologia encara o suicídio?
Telma Nascimento – Na realidade, o suicidio não tem sido objeto
de estudo da sociologia, ele foi estudado especificamente por Durkheim. Eu de
fato não tenho conhecimento de uma pesquisa sociológica mais contemporânea
sobre tal assunto, o que eu tenho visto são algumas análises na mídia ou
estudos dos antropólogos sobre a situação de um alto índice de suicídio em
algumas comunidades indígenas. Mas sobre o suicídio, eu não tenho conhecimento
de uma pesquisa atual sobre a perspectiva sociológica.
GRUPO – Qual a principal contribuição
que o estudo de Durkheim trouxe para a compreensão do suicídio?
Telma Nascimento – O estudo de Durkheim foi feito em um
determinado momento de institucionalização da sociologia, e para isso, o estudo
sobre o suicídio cumpriu um papel importante. Era naquele momento em que
Durkheim estava tentando imputar à sociologia um estatuto de ciência, daí a
preocupação dele em analisar os fatos sociais por uma perspectiva científica.
Então, ele fez o estudo sobre o suicídio nessa perspectiva, contribuindo para dar
à sociologia um caráter de ciência e uma singularidade. Ele vai então estudar o
suicídio, que antes era uma preocupação do âmbito da psicologia, tentando
trazer para a análise sociológica, partindo do pressuposto de que o suicídio é
um fato social, já que é coercitivo, exterior e generalizado. Ele analisa isso
fazendo comparações, buscando estatísticas, para poder, inclusive, argumentar
que o suicídio é um fato social.
GRUPO – Durkheim afirma que existem
pessoas mais propensas a cometer suicídio. Quais são elas e como a sociedade as
influencia?
Telma Nascimento – Na verdade, Durkheim não analisa termos
individuais, ele diz que a própria sociedade é quem gera os elementos que
concorrem para que o indivíduo cometa suicídio. Por isso ele fala dos três
tipos de suicídio, e os três estão ligados a questões que foram geradas num
nível social. Ele localiza na sociedade as razões que acarretam nesse tipo de
comportamento.
GRUPO – Atualmente, quais os fatores
sociais mais determinantes nas taxas de suicídio?
Telma Nascimento – Vemos na mídia muitas reportagens de algumas
sociedades em que se percebe um número significativo de suicidas, por exemplo,
no Japão e na Suécia. Mas de fato não posso afirmar se existe uma análise
científica sobre essa questão. Mas uma coisa interessante que devemos trazer
para essa discussão é a visão que o suicídio tem nas religiões. Para os
cristãos, ele é um pecado. Para outras perspectivas poderia ser até um ato
heroico, vemos isso no jihad. Nesse último caso citado é uma questão de honra o
suicídio e acredita-se que dessa forma o indivíduo alcançaria o reino dos céus.
Reportagem e entrevista feitas por: Júlia Pontes, Renata Bellato, Beatriz Oliveira, Caroline Mendonça e Vitória Caetano.
terça-feira, 2 de julho de 2013
Karl Marx e a Obsolescência Programada
*Por:Ana Carolina Medeiros, Anna Carolina Mendes, Bruna Oliveira, Izabella Veronica e Milleny Cordeiro
Abaixo,a entrevista na íntegra.
1. Com o conceito de Globalização em mente, você acredita que as barreiras existentes entre as classes tornaram-se mais frágeis e fáceis de serem transpostas?
Flávio: - Não, na verdade com a globalização elas se fortaleceram, porque você tem uma unidade internacional entre as classes que controlam e administram o capital, então isso possibilitou, por exemplo, uma flexibilização do trabalho, nas relações de trabalho, onde você complexifica essas relações e possibilita inclusive o aumento da forma de exploração, que possibilita a geração do capital.
Karl Marx (1818-1883) foi um pensador alemão que ficou famoso por estudar e perceber, como nenhum outro, o modo de produção capitalista e o regime de acumulação de capital. Em “O Capital” de 1867 (obra esta que ficou inacabada), ele analisa a produção capitalista e as formas de extração de mais-valor. Marx acreditava que o trabalho era um meio pelo qual os indivíduos conseguem satisfazer suas necessidades básicas de sobrevivência, e que a divisão de classes estabelece-se por meio da separação entre quem produz riquezas (classe produtora) e quem usufrui de tais riquezas (classe exploradora).
Ele gerou conceitos a respeito do que é valor do trabalho e mercadoria. De acordo com Marx, o processo de produção de mercadorias é autônomo em relação às vontades humanas, pois o trabalhador realiza um trabalho alienado (não-consciente). Para ele, o ser humano só estará exercendo sua própria essência quando realizar o trabalho não-alienado (teleológico). No “Manisfesto do Partido Comunista” de 1848, Marx e Engels revelam que “Com a extensão do maquinismo e da divisão do trabalho, o trabalho perdeu todo caráter de autonomia e, assim, todo atrativo para o operário. Este torna-se um simples acessório da máquina. Só lhe exigem o gesto mais simples, mais monótono, mais fácil de aprender. Portanto, os custos que o operário gera limitam-se a aproximadamente apenas aos meios de subsistência de que necessita para manter-se e produzir-se. Ora, o preço de uma mercadoria – e, portanto, também do trabalho – é igual a seus custos de produção. Por conseguinte, à medida que o trabalho se torna mais repugnante, o salário decresce”.
Com a cultura de produção de mercadorias atual, na qual o consumismo é buscado a qualquer custo, uma nova concepção de produção é criada: a “Obsolescência Programada”- diminuição da vida útil de produtos com o intuito de manter o consumidor comprando. Uma frase publicada em uma revista de publicidade de 1928 nos Estados Unidos revela o que move essa nova concepção: “Um artigo que não se desgasta é uma tragédia para os negócios”. Com isso, e no contexto de Globalização atual, fica fácil compreender o alcance temporal do Marxismo: “Pressionada pela necessidade de mercados sempre mais extensos para seus produtos, a burguesia conquista a terra inteira. Tem que imiscuir-se em toda a parte, instalar-se em toda a parte, criar relações em toda a parte. Pela exploração do mercado mundial, a burguesia tornou cosmopolita a produção e o consumo de todos os países” (in “Manifesto do Partido Comunista”).
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Professor Flávio Munhoz |
Tendo este recorte da teoria Marxista como parâmetro de análise,na entrevista que segue, os Professores Flávio Munhoz Sofiati (Dr. em Sociologia pela USP,2009) e Francisco Chagas Evangelista Rabelo (Dr. em Sociologia pela USP,1992) responderam a perguntas que focaram na concepção de Karl Marx sobre mercadoria e valor do trabalho/trabalhador,fazendo uma ponte com o conceito de Obsolescência Programada e cultura de consumo atual,além do enfoque na Globalização e na ideia de luta de classes.
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Professor Francisco Chagas |
Abaixo,a entrevista na íntegra.
1. Com o conceito de Globalização em mente, você acredita que as barreiras existentes entre as classes tornaram-se mais frágeis e fáceis de serem transpostas?
Flávio: - Não, na verdade com a globalização elas se fortaleceram, porque você tem uma unidade internacional entre as classes que controlam e administram o capital, então isso possibilitou, por exemplo, uma flexibilização do trabalho, nas relações de trabalho, onde você complexifica essas relações e possibilita inclusive o aumento da forma de exploração, que possibilita a geração do capital.
Francisco: - Eu acho que é meio ilusório pensar que essas barreiras se tornem mais frágeis, né?! Na verdade elas aparecem mais frágeis, mas eu acho que ela aprofunda esse abismo que existe entre as classes, que não é apenas uma questão de renda, ou de distribuição de renda, é isso e passa,também,por isso. Mas, a globalização se insere nessa reprodução, no processo de acumulação de capital. E com isso, a riqueza aumenta de forma fabulosa, entre as pessoas, os empresários, os donos do capital, ou aqueles que necessariamente não investiram diretamente em empresas, mas jogaram o seu dinheiro no mercado financeiro...você não consegue dimensionar o nível de riqueza dessas pessoas. Alguma coisa do consumo sofisticado, sofisticadíssimo, talvez te dê uma ideia do nível de riqueza dessas pessoas, mas fica sempre muito aquém. Você tem um barco, um avião particular, ou uma mansão, ou apartamento em Paris, Nova York, numa cidade da Alemanha: Frankfurt, e por aí afora,Itália, à beira mar, nas montanhas... isso é apenas a ponta do iceberg. Bom, é verdade que há uma mobilização, não só da chamada elite, ou entendida aí como a classe dominante (a classe econômica dominante), mas a globalização também proporcionou uma mobilidade das classes trabalhadoras, às vezes mão de obra pouco especializada, mas também de mão de obra altamente especializada, permitiu isso e está permitindo. E essa migração muitas vezes também, proporciona um aumento de renda e ás vezes também uma sofisticação de consumo com aumento de renda. E aí você diz – bom, então as barreiras estão flexíveis, fluídas, mas acho que os momentos de crise põe à nu essa ideia, essa ilusão que é criada. Bom, e o que eu digo também, gostaria de sublinhar que não é só ilusão, quer dizer, um trabalhador aqui do Brasil, pouco especializado – oh, essa mão de obra pode ser muito necessária num país desenvolvido e aquilo proporciona um nível salarial muito maior, lá. E o que permite um nível de poupança, coisa que não fazia aqui no Brasil, permite um nível de poupança. Então veja, isso significa que as barreiras se tornaram flexíveis? Não. O que houve foi uma mobilidade vertical que permitiu uma cesta de consumo um tanto mais volumosa, e às vezes até se tornando proprietários, pequenos proprietários, micro empresários e etc. E enquanto isso se deu, os detentores do capital e suas várias manifestações observaram um crescimento muito grande. Então digamos, houve uma certa flexibilidade,onde o que é rico se tornando mais rico, e em alguns casos trabalhadores que tinham um nível de renda baixo aumentaram seu nível de renda, mas a estrutura de classe permaneceu.
2. Na sua visão, o ideário da classe dominante tornou-se mais sutil e difícil de ser identificado? Por quê?
Flávio: - Não se tornou mais difícil de ser identificado, porém mais sutil porque ele se aprimorou nessas relações discutidas, as fronteiras entre esses países foram superadas, na verdade o próprio termo “globalização” está sendo discutido na academia, na verdade o que nós temos de fato é uma mundialização do capital. Então, tem-se uma flexibilização das fronteiras de relações econômicas de mercado entre os países, mas essas relações continuam muito desiguais, principalmente entre com relação aos países do hemisfério norte em relação aos países do hemisfério sul. Está se complexificando, até mesmo aqui no hemisfério sul, a gente já tem relações bilaterais entre países, como por exemplo, Brasil e China. Mas são relações que mantém a lógica de desigualdade nas trocas econômicas, onde você tem, por exemplo, a venda de produtos de alto padrão tecnológico sem a troca de informações, sem a partilha de tecnologia desenvolvida, então, por exemplo, em alguns casos específicos o Brasil até mesmo já faz isso, com relação aos países latino americanos, como no caso da produção de aeronaves. Nós temos a EMBRAER, que é a terceira melhor empresa, enfim, é a empresa mais desenvolvida no mundo de produção de aeronaves, então nós temos uma relação com os países latino americanos, da mesma proporção que os Estados Unidos tem com o Brasil, de desenvolver produtos de alta tecnologia sem passar o conhecimento tecnológico desenvolvido naquele produto. Nesse sentido você mantém as relações de desigualdade, no Brasil se tem a EMBRAER, mas o que basicamente mantém a nossa balança, na exportação, são os produtos primários, soja, enfim, são produtos de baixa densidade tecnológica e se for pensar do ponto mais geral, são os principais produtos de exportação do país. O Brasil é um grande exportador de café, mas o maior exportador de café do mundo é a Alemanha, que exporta café solúvel, ou seja, compra da Colômbia, por exemplo, que é uma das maiores exportadoras de café do mundo, em natura, e ela industrializa esse café, ela agrega valor a ele. Então em termos de controle de valor, a Alemanha é o maior exportador de café hoje no mundo, não é a Colômbia, porque a Alemanha compra da Colômbia, entre outros, e agrega valor a esse produto, industrializando ele e transformando em café solúvel, por exemplo, e nesse processo nas relações internacionais ela acaba mantendo sua hegemonia. Então, o próprio conceito de globalização é um conceito em debate na academia, o que nós temos na verdade é uma mundialização do capital, mesmo porque, se vocês forem para outros países hoje, Estados Unidos ou a Espanha, precisa-se de vistos. Em determinados países é muito difícil ter um visto, as relações econômicas de indústrias brasileiras possuem muitas barreiras, com relação ao estabelecimento no mercado norte-americano. No caso da produção de suco de laranja, por exemplo, a Cutrale, que é uma empresa brasileira, que está estabelecida nos Estados Unidos, enfrenta uma série de barreiras para vender seu produto dentro do mercado interno norte-americano, diferentemente dos produtos norte-americanos que chegam ao Brasil, as facilidades são muito maiores.
Francisco: - Será? Eu devolveria a sua pergunta fazendo a outra, quer dizer, será?! Se talvez a própria classe dominante muitas vezes é sensível, desenvolve o ideal que eu chamaria de civilidade, respeito às diferenças e etc. Mas por outro lado, está muito claro também que eles não abrem mão do controle da riqueza que eles têm. Então nós podemos compartilhar algumas ideias igualitárias, e às vezes até libertais: eles podem compartilhar porque pra eles não tem custo nenhum.O custo que eu to dizendo não é o desembolso de alguma contribuição que possa dar, porque aquilo pra ele é insignificante diante da riqueza acumulada. Então, esse ideário de igualdade, de civilidade daqui da esfera civil mesmo,pode ser compartilhado sem comprometer de forma decisiva os interesses da chamada classe dominante, é assim que eu entendo.
3. Para Marx, o que adiciona valor a uma mercadoria é o trabalho. Este valor continua presente após a inserção de tecnologia no processo produtivo?
Flávio: - Sim. O que é importante levar em consideração com relação ao Marx? Quando ele fala que o que dá valor ao capital é o trabalho, ele está dizendo que é um trabalho específico que envolve uma relação, o capital econômico é considerado como valor. Mas do ponto de vista sociológico, o capital é uma relação social, que é estabelecida entre dois grupos sociais específicos de classes distintas, que são divididos em classes a partir do local no qual estão inseridos no sistema de produção. Então Marx vai dizer que existem duas classes antagônicas, não são as únicas, mas são as duas antagônicas, que são os burgueses, ou seja, os capitalistas, os empresários, utilizando os termos mais atuais, os donos dos meios de produção e os possuidores da força de trabalho. Então vamos tentar exemplificar, o que são os meios de produção? São as máquinas e os insumos. Uma fábrica de produção de suco de laranja enlatado envolve a produção da laranja e o maquinário, que transformam aquilo que é natural em produto industrializado. Só que do outro lado do processo de produção se tem a força humana, que são os que possuem a força do trabalho. Nessa relação, se poderia pensar que é uma relação entre burguesia e o proletariado, o empresário e o trabalhador, mas Marx vai mostrar que há uma relação de parceria. Na verdade, o trabalhador em geral produz mais valor do que ele recebe na forma de salário e, devido a isso, há a geração de capital, que é basicamente pensada na lógica do lucro, juros e da renda da terra. No caso da empresa, o lucro; no caso do capital financeiro, a bolsa de valores, enfim, os juros; no caso do trabalho rural, a renda da terra. Então é o valor que o trabalhador produz a mais que irá gerar a produção de capital. Em geral, se ele trabalha oito horas e ganha cem reais por essas oito horas, os cálculos matemáticos mostram que essas oito horas que ele trabalhou gerou em média mil reais em valor. O capitalista fica, destes mil reais, com novecentos reais e paga cem reais para o proletário em forma de valor, então há uma exploração, a partir da extração daquilo que Marx vai chamar na sua obra de mais-valia. O que é a mais-valia? É essa diferença que se tem na hora de pagar o salário do trabalhador e o que ele de fato produz e gera lucro pro capitalista. Há dois tipos de mais valia, a mais valia absoluta e a mais valia relativa. A absoluta é o tipo de exploração ao trabalhador que existia principalmente no início do capitalismo, em que se extrai mais valia aumentando as horas de trabalho do operário. Hoje se tem, basicamente na industrialização brasileira e mundial, o tipo de mais valia relativa que, ao invés de investir em mais horas de trabalho para explorar o trabalhador, investe em tecnologia com melhores maquinários, com melhor estrutura de produção, que faz com que o trabalhador produza mais com menos horas de trabalho. Então vou dar um exemplo : não sei se vocês já usaram algum produto da Lupo (agora o Neymar está aí fazendo propaganda), tem cuecas, meias, lingeries; a Lupo, nos anos 90, tinha 4.000 funcionários. Era uma empresa que trabalhava mais com mulheres, então quem visitou a Lupo nos anos 90 encontrou um galpão enorme com um monte de maquininhas pequenininhas, com duas ou três mulheres operando. Quem vai para a Lupo agora, entre 2010 e 2013, não encontra mais 4.000 funcionários, já não tem mais aquele galpão com maquininhas pequenininhas com duas ou três funcionárias juntas. Na verdade você tem um grande galpão, mas com grandes maquinários e do lado uma salinha de computadores, onde basicamente a produção é informatizada, e você tem meia dúzia de funcionários trabalhando na informática e conduzindo as máquinas automaticamente, e meia dúzia de funcionários tentando ajustar o que sai da linha de produção. Então, percebe-se que a Lupo, dos anos 90 pra cá, triplicou a sua produção e a sua venda no mercado. Como ela fez isso? Investindo em tecnologia. Então ela deixou de lado as máquinas que eram obsoletas, de produção de meia, e investiu em tecnologia, comprou um maquinário, que produz muito mais meias por hora/unidade, com menos funcionários. Então esse é o tipo de mais-valia relativa, ou seja, é o investimento na tecnologia que possibilita a exploração do trabalhador com menos horas de trabalho dele, e isso aumentou cada vez mais o desemprego. Trouxeram uma empresa que antes trabalhava com 4000 funcionários e hoje com 1000, e esses 3000? Foram para o mercado informal, para aquilo que o Marx vai chamar de exército industrial de reserva.
Francisco: - É... não. Aí permanece, não é. Mas na linha da ideia do trabalho morto, do trabalho que foi agregado e que hoje você não vê.E aí você precisa trabalhar com a ideia da mais valia absoluta e relativa.
4. Marx acreditava que a divisão social do trabalho é que cria as relações desequilibradas entre possuidores dos meios de produção (classe dominante) e detentores da força de trabalho (classe dominada). Com a cultura de produção de mercadorias visando um consumo exacerbado e acelerado, é possível visualizar uma nova classe mais ou menos homogênea (classe consumidora)?
Flávio: -Não, na lógica do Marx não. Já na lógica de outros pensadores é até possível pensar isso aí, por exemplo a partir da perspectiva de Weber, que vai dividir a sociedade em extratos sociais. Mas, na lógica do Marx, a classe social não é dividida a partir da lógica do consumo e sim, na lógica da produção. É impraticável pensar em uma classe consumidora, como se fala hoje em classe C (a nova classe média). Ela é pensada em uma lógica de uma classe que passou a consumir mais produtos específicos, da linha branca, de eletrodomésticos, financiamento de casas e também carros e de imóveis não é?! Do ponto de vista de Marx, isso é impraticável, pois ele vai pensar as classes sociais a partir da produção do homem e não do consumo do mercado. O que você tem, na verdade, é uma homogeneização de um estilo de consumo presente no contexto contemporâneo, que passa pela lógica da financeirização.
Francisco:-O sistema social experimenta uma grande transformação, até que ponto essa transformação implica na geração de uma classe de consumidores? E aí, pra que você entenda que isso ocorreu ou está ocorrendo seria preciso você fazer uma alteração no próprio conceito de classe, formulado por Marx, pelos marxistas, que colocavam que a existência das classes era determinada pela posição da produção. Então penso que em algumas esferas da vida social há elementos pra se pensar numa possível classe de consumidores ,mas não no geral. Na medida em que prestadores de serviços conseguem um nível de renda muito alto, que permite um consumo recorrente e crescente, em que esfera da vida social isso ocorreria? Aí nós teríamos de fato que ter dados muito mais contundentes e muito mais sistematizados para dizer que isso de fato está ocorrendo, porque pode ser apenas ideias que estão correndo, mas ideias que não expressam de fato o movimento social, a dinâmica da sociedade.
5. Marx discorre sobre a exploração na sociedade capitalista usando como base a mercadoria.Tendo em vista que a obsolescência também é voltada para a mercadoria,é possível traçar um paralelo?
Flávio: - Por que o Marx começa a sua obra chamada “O Capital” com o primeiro capítulo intitulado “A mercadoria”? Ele tentou organizar a sua obra de forma pedagógica para que as pessoas entendessem. Então ele começa explicando como era a mercadoria,para mostrar como ela surge no mercado industrial. E um dos aspectos dessa mercadoria é a questão da sua forma valor, ou seja, a mercadoria, antes de tudo, também é uma forma valor, assim como o salário e os lucros.E a mercadoria, na verdade, é uma estrutura de valor incorporada na lógica de dois tipos específicos de valor, que Marx vai chamar de valor de uso e valor de troca. A mercadora tem esses dois valores, porém o que predomina na mercadoria é esse valor de troca. O que é o valor de uso? É aquele produto que é feito pensando na lógica do consumo. Então, toda mercadoria tem sua utilidade, não tem? Você não vai comprar nada que não seja útil. Evidentemente, que no mundo atual, nós estamos criando artificialmente, cada vez mais, necessidades que não se justificam, mas que possam se justificar pela própria lógica da nossa sociabilidade. Vamos usar como exemplo os telefones. Você tem um Iphone 4S, só que já chegou o Iphone 5. Para você, por conta de todo um processo de propaganda e sociabilização que se tem, o Iphone 4S daqui a pouco vai se transformar numa máquina obsoleta, não vai mais servir para o que você precisa porque o Iphone 5 já tem um sistema ios7, que foi lançado hoje nos Estados Unidos. Então, tudo isso cria uma necessidade, que um princípio artificial, mas que passa a ser de fato uma necessidade real dentro do contexto de sociabilidade atual. Mas, de toda forma, todo produto que se transforma em mercadoria tem o seu valor de uso, ou seja, ele tem a sua utilidade. Porém ele tem também um outro elemento, um outro tipo de valor que é o valor de troca. Se por um lado ele tem a sua utilidade, por outro ele tem a sua capacidade de ser vendido, de ser comercializado. Marx usa esse termo, mas podemos até substituí-lo, porque na época dele esse era o mais comum, era o mais interessante para pensar as relações de mercantilização da mercadoria(que é a sua capacidade de ser trocada). Hoje, a gente troca por um dinheiro. Mas, enfim, a troca entre dois produtos,no próprio contexto de troca faz com que ele se torne um valor. O Iphone 5 é um produto, é uma mercadoria, mas ele tem um valor, se você for comprá-lo tem que pagar o valor equivalente. Então, a troca é essa, a troca do dinheiro por aquilo que vale aquele produto, ele tem o valor de uso (sua validade), e o valor de troca. O valor de uso fica meio que escondido.Ele desaparece e ao desaparecer, ele acaba até mesmo escondendo a lógica real daquilo, que se apresenta como produto nas prateleiras do supermercado ou da loja em que vende o celular. Nesse aspecto, você tem uma invisibilidade do processo histórico de produção daquele Iphone. Então, você vai comprar um Iphone, só que você comprar ele preocupada em saber como ele foi produzido?Foi produzido na China? Usaram trabalho infantil? Usaram trabalho escravo?... Nós não levamos em consideração isso, porque tudo isso é meio que escondido, invisibilizado. E é isso que Marx vai chamar de fetiche da mercadoria. A mercadoria se apresenta para nós como algo mágico, como se alguém tivesse dado um toque de mágica e o Iphone apareceu. Mas ele foi produzido, pensado, criado. Tem todo um corpo de trabalhadores por trás que pensou no Iphone, que pensou no tênis, naquele produto do 1,99... e um outro grupo de trabalhadores que produziu, na linha de produção. Tudo isso a gente não leva em consideração na hora de comprar, você chega na loja e pergunta “ah, eu quero olhar aquele sapatinho ali da Adidas”,e só quer saber se ele é confortável no seu pé, se vai caber bem, se é do seu número. Você não vai perguntar onde foi produzido,você pode até olhar lá “made in China”, “made in Paraguai”...Você não vai perguntar “mas pera aí, a empresa que fez, que está ligada a Adidas, paga os funcionários hoje em dia? Como é a situação?”(...) Então, tudo isso é o que Marx vai chamar de fetiche da mercadoria. Há um outro aspecto importante, que é a fetichização da mercadoria com relação a nós. Muitas vezes, a gente consume aquilo porque está na moda, o exemplo do Iphone volta nisso. Bem, mas será que o Iphone 4S não resolve as minhas necessidades? Porque eu irei comprar o Iphone 5? Só porque, em geral, os meus amigos já estão com o Iphone 5? Eu tinha um amigo da informática e uma vez ele comprou um pen drive de 64GB, enfim, eu perguntei, “mas Leandro, porque você comprou um pen drive de 64GB? Eu estou com um de 4GB e esse aqui resolve minha vida”, daí ele falou, “só para fazer inveja pros amigos”. Então, tem um pouco essa lógica no nosso consumo, no nosso jeito de vestir, nos produtos que a gente consome, porquê? Porque eles hoje dão até mesmo destaque para a constituição das nossas identidades, passa um pouco por aquilo que a gente consome durante aquilo que a gente usa, veste. Então, por exemplo, você tem a turma dos Apple maníacos, então tem o MacBook, o iMac, o Iphone. Daí, tem até um piadinha para quem tem android,“Você tem um 'aipobre'?”,não é isso? Tudo isso passa por essa lógica da fetichização,ou seja, são elementos que te levam a consumir e a transformar necessidades que seriam artificiais em necessidade de fato reais.
6. Para Marx, o desenvolvimento capitalista se contradiz porque o capital precisa sempre desenvolver a tecnologia e dispensar a força de trabalho,porém a força de trabalho é a fonte criadora de mais-valor. Onde essa contradição se aplica no contexto atual?
Flávio: - Ela não se aplica porque você tem esses dois tipos de mais-valor, de mais-valia. Eu gosto dessa tradução “mais-valor”, facilita para entender, né? O mais-valor era absoluto no início do capitalismo e em alguns países, como a China, ele ainda continua absoluto. Como lá tem muita mão de obra, você tem as empresas repletas de trabalhadores que trabalham 12 a 16 hrs. No Brasil, a gente não vê muito isso,a não ser em confins do país. E daí eu não estou falando só no lado norte ou do miolo do país, que foram, por exemplo, no interior do estado de São Paulo as usinas de cana de açúcar e álcool. Então é no estado mais rico do Brasil que você tem a exploração de mão de obra ,a exaustão. Há gente que morre de exaustão, ou seja, o pessoal produz e trabalha tanto que morre de fadiga. Têm pesquisas que mostram, nos anos 90, o trabalhador cortava oito toneladas de cana por dia, hoje eles cortam em média de doze a quatorze toneladas por dia. Isso é um tipo de exploração de mais-valia absoluta, ou seja, você investe no trabalho humano, explora o máximo de tempo dele. Sim aumentou a produção individual, antes se cortava oito, agora corta doze, mas diminuiu o salário. E daí as usinas, para tentarem enganar um pouco as relações trabalhistas, inventaram a questão da produtividade: você tem um salário mínimo, baixíssimo, de R$ 622,00 e você ganha um adicional de produção. Isso gera uma competitividade entre eles. Percebe que tem elementos, psicológicos aí também no processo? Mas o que predomina, na verdade hoje, no setor mais regularizado da economia brasileira é a mais-valia relativa, ou seja, é o tipo de exploração que envolve mais tecnologia e menos trabalho, mas o trabalho humano ainda permanece como necessário, mesmo que seja numa área, como no caso da Lupo, em que se tem uma sala de informática que controla as máquinas. Aí você tem que ter o controlador, tem que ter o técnico de informática que entende daquilo...Isso exige mais especialização do trabalhador, mais qualificação e é uma coisa que a gente ouve falar o tempo todo na universidade. Por exemplo, vocês terão um diploma de comunicação social com habilitação em jornalismo, então não é um diploma genérico de comunicação social. Aqui, a gente tem habilitação em ciências sociais: políticas públicas, bacharelado e licenciatura...E essa especialização é cada vez mais cobrada pelo mercado.
7. No “Manifesto do Partido Comunista”, Marx e Engels alegam que: “As antigas necessidades, antes satisfeitas por produtos locais, dão lugar a novas necessidades que exigem, para sua satisfação, produtos de países e dos climas mais remotos. A auto-suficiência e o isolamento regional e nacional de outrora deram lugar a um intercâmbio generalizado, a uma interdependência geral entre as nações.” Com a interligação cada vez mais iminente de práticas produtivas entre nações (mais precisamente entre empresas que, juntas, formam grandes corporações), você acredita que a prática essencialmente capitalista de diminuir a vida útil de produtos a fim de que estes sejam substituídos por outros, na busca de alargar o consumismo, pode ser combatida de algum modo?
Flávio: - Bem, é um pouco do que eu falei já do Iphone, por exemplo. Eu dei esse exemplo porque eu tenho um amigo, que tem um Iphone 3 e não vê a hora de dar um fim nele, porque ele já é obsoleto. Porém, tem um dado importante, o Iphone 3 já não tem mais atualizações. Percebe que a própria empresa estimula esse consumo dos produtos cada vez mais novos? É um pouco dessa lógica, que o Marx já está prevendo lá no Manifesto,na sua obra do século XIX. Por isso eu fico impressionado quando eu estou lendo Marx. Parece que ele falou ontem dessa necessidade, cada vez mais amplificada do consumo. É de fato um mecanismo do capital. O capital precisa se reproduzir o tempo todo e para se reproduzir precisa produzir mercadorias e ,para produzir, mercadorias precisa vender e para vender, nós precisamos consumir. Não dá mais para ter a geladeira que dura duas, três décadas, entende? Nossos avós tinham isso(você vai lá na casa da avó e tem uma geladeira azul, redondona e você abre e ela funciona normalmente). Hoje não. Hoje, a geladeira e o fogão, você troca conforme os estilos. Eles podem até servir, mas não são tão bons quanto eram os antigos. E eles saem de moda! Então é natural hoje você ouvir as pessoas falando que precisam mudar a sala, porque o padrão hoje é outro, então isso acaba gerando necessidades de consumo. O que fazer para combater isso? Eu, a princípio, olhando Marx e outros autores, vejo que não tem outra saída a não ser repensar os valores. Hoje nossos valores estão muito focados mais na moral e menos na ética. Claro que os dois são importantes, mas a ênfase na moral sem a ética faz com que a sociedade seja muito moralista em detrimento de um compromisso mais coletivo, que passa pela lógica da ética. Hoje nós somos muito individualistas e muito consumistas, somos muito competitivos... E é importante que se resgate a lógica da solidariedade, em detrimento da competição; a lógica da coletividade, em detrimento do individualismo e a lógica do consumo útil em detrimento do consumo artificial. Se você é mais solidário e é mais coletivista, você vai ter mais atenção com relação ao que vai consumir, inclusive levando em consideração a sua relação com o meio ambiente. Hoje se tem até uma consciência planetária aumentando com relação a isso, tem até movimentos que falam que, se você quer comprar um celular novo, doe o seu antigo, porque ele vai servir para alguém. Então, eu acho que é importante recuperar essa lógica, que é só a partir disso que você consegue repensar um pouco essa realidade atual, que nos está levando para um contexto meio que apocalíptico. As matas estão acabando, o petróleo está acabando, enfim, as matérias primas são finitas e daí a gente ta falando que não tem petróleo, mas tem álcool. Ter o álcool significa plantar mais cana de açúcar e ter menos espaço para arroz, feijão, mandioca, batata, que a gente come. Enfim, os grandes agricultores, o agronegócio não está voltado para a alimentação, está voltado para a produção de cana de açúcar, pra álcool, soja para ser industrializada e outras coisas mais. Não é para o consumo direto e esse é um problema. A gente está pagando cada vez mais caro no feijão, no arroz, na batata, porque tem cada vez menos produtores. Enfim, é um pouco isso.
Francisco: - Eu queria pensar isso nos mesmos termos que Marx se coloca, quer dizer, em vez de descer das ideias para a realidade, partir da realidade para as ideias. E aí eu diria para você, seria muito difícil. Pensando do ponto de vista das ideias, há movimentos sociais lutando por isso. E porque isso não é eficaz? A relevância disso é pequena, diante desse processo geral, internacional, etc. teríamos que trabalhar aí com a questão do esgotamento das fontes de matéria prima, mas isso também significa o quê? Já se consegue sair dessas limitações das fontes de matérias primas porque se criam outras, mas acho que não faria mal a gente pensar que os recursos vão se esgotar, mesmo que seja lá na pontinha tem sempre uma fonte natural, e pode se pensar em cima do esgotamento dos recursos do planeta, fora disso, eu acho que esses movimentos são bem vindos, de luta, para que não entre de vez e de forma absoluta nessa obsolescência programada dos objetos, dos bens que atende as necessidades, acho politicamente interessante, mas, quero pensar- e lá na base? Na base, eu acho que teríamos que pensar numa hipótese dessa natureza, no esgotamento total dos recursos.
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