Rádio Germinal

sábado, 13 de junho de 2009

Um pouco mais sobre o suicídio de Émile Durkheim

O tema suicídio, estudado por Émile Durkheim, gera bastante polêmica e apesar da “idade” de sua obra (O Suicídio) é bastante atual devido ao mundo individualista em que vivemos e, principalmente devido à crise econômica pela qual o mundo está passando. Por isso, decidimos entrevistar o sociólogo e professor de historia do colégio WR, Millenium,e UCG Antônio Luíz de Souza , para esclarecer algumas duvidas mais comuns acerca deste tema.

Pergunta: Durkheim buscou definir a sociologia rigorosamente de forma científica. Em seus estudos, ele quis estabelecer uma forma de distinguir os fatos sociais normais dos patológicos. O suicídio se encaixa em qual categoria de fato social? Por quê?
Resposta: Émile Durkheim procurou estudar o suicídio como fato social e que se encaixa tanto em fato social patológico quanto normal. A sociologia só existe porque tem algo a ser estudado (a sociedade) e Durkheim acredita, quando afirma que o suicídio se encaixa em um fato social normal, que o mesmo faz parte de uma sociedade e por ser recorrente deve ser estudado como uma característica que ela possui. Mas também, o suicídio é visto como fato social patológico, pois são considerados ruins, indesejáveis e ameaçadores, o que contribui para a degradação da sociedade.


P: Por que Durkheim é considerado pioneiro no estudo de suicídio? Algum fator específico o influenciou?
R: O Suicídio foi publicado pela primeira vez em 1897, quando Durkheim tinha 39 anos de idade. Na verdade já existiam outros estudos sobre o suicídio, mas nenhum relacionado com a sociedade. Ele tomou como base esses outros estudos e foi influenciado também pela morte, através de um suicídio, de um amigo seu de faculdade. Então os estudos já existentes e a perda de um amigo, especialmente, o levaram a estudar o assunto sob um diferente foco.


P: Durkheim classificou o suicídio em três tipos: altruísta, anômico e o egoísta. Na sociedade atual qual é o mais recorrente? E como isso se explica?
R: O suicídio egoísta costuma ser o mais recorrente na sociedade atual. Durkeim acredita que há diferenças entre as populações mais intelectualizadas e que viver nas cidades seria a razão de terem maior inclinação ao suicídio, por exemplo, quanto maior for a cidade, mais você se sente sozinho pelo fato de que existem pessoas que você não conhece e nunca vai conhecer. A sociedade é individualista o que leva Durkheim, a afirmar que uma individualização excessiva leva o suicídio. Quando desligado da sociedade, o homem se mata facilmente.

P: Considerando o suicídio altruísta, aquele no qual o indivíduo se sacrifica em obediência a alguma norma social, como a religião e/ou a moral influenciam na sua ocorrência?
R: No suicídio altruísta, o suicídio e homicídio, como é mencionado pelo autor do livro ” (…) podem perfeitamente caminhar lado a lado, (...)” este tipo de suicídio é caracterizado por uma integração social forte, pois o individuo pode suicidar-se por estar excluído da sociedade que o acolhe mas também pode cometer o ato caso esteja muito integrado nela.
Este tipo de suicídio é característico das sociedades primitivas onde o individualismo é muito fraco, mas subsiste ainda nas sociedades modernas, como, por exemplo, na sociedade militar, onde a número de suicídios é mais elevado devido a pressão hierárquica que se impõe fortemente ao indivíduo
A religião desempenha um papel primordial na descodificação de símbolos para a tomada de consciência da sociedade, pois enquanto elemento agregador de todas as naturezas individuais, a sociedade produz diversos estados mentais dentro das consciências coletivas. É no campo da religião que encontramos diferentes tipos de indivíduos com vista ao mesmo fim, onde a entidade significa mais do que a própria vida da pessoa, um exemplo é o fundamentalismo islâmico.


P: O suicídio anômico é aquele despertado sempre que a sociedade passa por grandes transformações, sejam elas positivas ou negativas. Você acredita que com o advento da modernidade e com a crise atual, esse tipo de suicídio se torna mais comum?
R: A modernidade (XVI- XXI) sem dúvida gerou maior número de suicidas. As revoluções e transições como a crise de 29, por exemplo, têm manifestado maior clima para suicidas. A atual crise econômica mundial é um exemplo real de que o ser humano em momentos de instabilidade não suporta a pressão externa, e entra em conflito interior, já que, o emocional e o psicológico reagem de forma negativa e levam o indivíduo a cometer o suicídio anômico. Na Alemanha, o bilionário e industrial Adolf Merckle de 74 anos se jogou na frente de um trem próximo a sua mansão. Segundo os familiares, o motivo que o levou ao suicídio foi a crise imobiliária que se intensificou no país. Esse fato mostra que, o suicídio anômico tem se tornado cada vez mais comum, pois a sociedade tem passado por transformações bruscas e repentinas.


P: Para Durkheim o suicídio egoísta é cometido por indivíduos preocupados essencialmente consigo próprios e pouco integrados a grupos. Seria possível que a mídia atingisse esses indivíduos de forma negativa? Como?
R: É claro que seria. Por causa do ego, a mídia favorece a renúncia, o desapego, a desintegração. O isolamento que a mídia promove é mascarado, a pessoa se encontra ao mesmo tempo integrado e sozinho. Hoje, o homem líquido é mais predisposto ao assassinato e ao suicídio, porque a mídia com os seus padrões e rótulos ‘’ sobre como as pessoas devem ser ‘’ estimula um sentimento de revolta com a vida ou com as pessoas que o rodeiam. A mídia tem o poder de influência tão grande, que é capaz de modificar a personalidade do indivíduo. Este,se sente excluído, perde o equilíbrio emocional e passa a ver o mundo de forma egocêntrica, já que não mantém relações interpessoais fixas. O individualismo extremado não permite a busca por ajuda, como o auxílio de psicólogos e psiquiatras, por isso, o suicida egoísta acredita que a única solução para seus problemas internos é a morte, ignorando o fato de que as pessoas que o amam irão sofrer.


2 comentários:

  1. Este tema também é interessante, embora ter ficado preso apenas ao pensamento de Durkheim acabou limitando o avanço de outras possibilidades interpretativas e informações. O trabalho ficou bom.


    (8,5)

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