Rádio Germinal

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A ótica de Durkheim sobre o suicídio

A ótica de Durkheim sobre o suicídio


Émile Durkheim (1858-1917) é considerado o pai da sociologia, empenhando-se ao longo de sua vida para consolidá-la como ciência autônoma e específica. Seu esforço contribuiu para que a sociologia se tornasse uma matéria acadêmica. Foi fortemente influenciado pelo positivismo e conservadorismo de Auguste Comte. O pensador era defensor assíduo da utilização dos métodos das ciências naturais na análise da sociedade, sustentou a ideia de neutralidade de valores e instituiu os "fatos sociais" como o objeto de estudo da sociologia. Um dos seus principais estudos foi acerca do suicídio. Mas ora, o que Durkheim considerava como suicídio? 

Para ele, suicídio era qualquer ato direto ou indireto que uma pessoa é capaz de fazer contra si, tendo como finalidade a própria morte. As causas para tal comportamento são diversas, e quando uma pessoa se mata, não é fácil descobrir o que exatamente a levou a isso. 

Durkheim vem mostrar, então, que as causas para tal atitude não tem a ver somente com o indivíduo, mas sim com uma série de fatores sociais. Estes repercutem no indivíduo, levando-o a tirar sua própria vida. Porém, o modo como esses fatores refletem depende muito do modelo de sociedade que se considera.

Organização social, natureza dos indivíduos que a compõem e acontecimentos que perturbam a harmonia do funcionamento coletivo são fatores que influenciam gritantemente nas taxas de suicídio de uma sociedade. Como cada uma possui suas peculiaridades, os fatores sociais vão agir de modo distinto. Assim, diferentes sociedades vão ter diferentes taxas de suicídio. Elas se manterão constantes e uma alteração só ocorreria caso houvesse uma mudança muito brusca na organização do corpo social. 


Durkheim classificou o suicídio em três tipos: Egoísta, Anômico e Altruísta. No suicídio egoísta, há o isolamento excessivo de uma pessoa, onde há enfraquecimento dos laços sociais, da identificação com o próximo e a da solidariedade individual para com o coletivo. Já no suicídio anômico, acontece em situações de desordem social, quando há anormalidade nos valores e tradições de referencia são abalados. E no suicídio altruísta, que é a antítese do suicídio egoísta, acontece quando há apego excessivo, quando a identificação com o grupo é tão forte que o individual deixa de ter importância e há grande identificação do pessoal com o coletivo.


Como citado na entrevista dada pela socióloga Telma Nascimento, a qual está logo abaixo,  casos de suicídios em tribos indígenas têm sido registrados e mostrados na mídia brasileira e internacional. Dentre as tribos brasileiras, a Guarani-Kaiowá, localizada no Mato Grosso do Sul, é a que tem estado em maior evidência. E não é por menos. De acordo com a CIMI, Conselho Indigenista Missionário, essa tribo detém um dos mais altos índices de suicídio no país e no mundo. Ainda segundo a CIMI, a cada 6 dias, um jovem da tribo Guarani-Kaiowá tira a sua própria vida. Dentre os motivos citados pelos indígenas estão ausência de tratamentos para doenças, a falta de perspectiva de territórios demarcados e seu confinamento em reservas.

Nesse caso o suicídio é usado como uma fuga para problemas que essa sociedade enfrenta. Todavia, se analisássemos este ato com ‘’olhos cristãos’’ o condenaríamos. No cristianismo o suicídio é pecado, sem salvação, já que segundo a religião ninguém tem o direito de tirar a sua vida, ou a do outro, somente Deus tem esse poder.

Já em um grupo islâmico, o suicídio é visto como um ato heroico. Para a Jihad Islâmica da Palestina - um grupo militante palestino, considerado terrorista pelos governos dos Estados Unidos, da União Européia, do Reino Unido, do Japão, da Austrália e de Israel, que prega a constituição do Estado islâmico na Palestina em detrimento do Estado judeu -  quem se propõe a se esforçar em nome de sua religião morrendo por ela como homem-bomba, tem um lugar reservado na paraíso. Esse ato é denominado jihad, e é um ato de suicídio.

Vemos aí que cada cultura tem a sua perspectiva sobre determinado comportamento, logo, não se pode julgar qual é certa e qual é errada. Devemos olhar para tais como possíveis alternativas de modos de pensar. 

O suicídio mostra muitos dados estatísticos que sustentam as propostas de Durkheim, sobre os possíveis motivos que levam uma pessoa ao suicídio. Apesar de muitos críticos contestarem estes dados, sem dúvida, Durkheim foi um dos pioneiros no estudo sobre esse tema tão questionado e estudado no mundo inteiro.


Temos abaixo, a entrevista realizada. 


Telma Nascimento
Durkheim localiza na sociedade as razões que acarretam nesse tipo de comportamento suicida
Telma Nascimento é Doutora em Sociologia e Ciências Políticas (Universidad Complutense de Madrid - Título reconhecido no Brasil pela Unicamp como Doutora em Ciências Sociais), e ela concedeu essa entrevista sobre os aspectos que mais devem ser considerados acerca do suicídio de acordo com a visão Durkheimiana.

GRUPO Como a sociologia encara o suicídio?
Telma NascimentoNa realidade, o suicidio não tem sido objeto de estudo da sociologia, ele foi estudado especificamente por Durkheim. Eu de fato não tenho conhecimento de uma pesquisa sociológica mais contemporânea sobre tal assunto, o que eu tenho visto são algumas análises na mídia ou estudos dos antropólogos sobre a situação de um alto índice de suicídio em algumas comunidades indígenas. Mas sobre o suicídio, eu não tenho conhecimento de uma pesquisa atual sobre a perspectiva sociológica.

GRUPO Qual a principal contribuição que o estudo de Durkheim trouxe para a compreensão do suicídio?
Telma NascimentoO estudo de Durkheim foi feito em um determinado momento de institucionalização da sociologia, e para isso, o estudo sobre o suicídio cumpriu um papel importante. Era naquele momento em que Durkheim estava tentando imputar à sociologia um estatuto de ciência, daí a preocupação dele em analisar os fatos sociais por uma perspectiva científica. Então, ele fez o estudo sobre o suicídio nessa perspectiva, contribuindo para dar à sociologia um caráter de ciência e uma singularidade. Ele vai então estudar o suicídio, que antes era uma preocupação do âmbito da psicologia, tentando trazer para a análise sociológica, partindo do pressuposto de que o suicídio é um fato social, já que é coercitivo, exterior e generalizado. Ele analisa isso fazendo comparações, buscando estatísticas, para poder, inclusive, argumentar que o suicídio é um fato social.

GRUPO Durkheim afirma que existem pessoas mais propensas a cometer suicídio. Quais são elas e como a sociedade as influencia?
Telma NascimentoNa verdade, Durkheim não analisa termos individuais, ele diz que a própria sociedade é quem gera os elementos que concorrem para que o indivíduo cometa suicídio. Por isso ele fala dos três tipos de suicídio, e os três estão ligados a questões que foram geradas num nível social. Ele localiza na sociedade as razões que acarretam nesse tipo de comportamento.

GRUPO Atualmente, quais os fatores sociais mais determinantes nas taxas de suicídio?
Telma NascimentoVemos na mídia muitas reportagens de algumas sociedades em que se percebe um número significativo de suicidas, por exemplo, no Japão e na Suécia. Mas de fato não posso afirmar se existe uma análise científica sobre essa questão. Mas uma coisa interessante que devemos trazer para essa discussão é a visão que o suicídio tem nas religiões. Para os cristãos, ele é um pecado. Para outras perspectivas poderia ser até um ato heroico, vemos isso no jihad. Nesse último caso citado é uma questão de honra o suicídio e acredita-se que dessa forma o indivíduo alcançaria o reino dos céus. 


Reportagem e entrevista feitas por: Júlia Pontes, Renata Bellato, Beatriz Oliveira, Caroline Mendonça e Vitória Caetano.

4 comentários:

  1. Parabéns pela iniciativa de envolver os estudantes primeiranistas de jornalismo em questões de saúde mental abordando um tema ainda considerado tabu por profissionais da imprensa em geral.
    Que não se restrinja à disciplina sociológica para compreensão das causas e consequências possíveis que advém da ruptura com a vida de maneira tão drástica.

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  2. As músicas são d+ amei.Esse blog é fera.

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