Rádio Germinal

sábado, 18 de julho de 2009

Conceitos básicos de Sociologia referente a obra Feito por encomenda

COERÇÃO SOCIAL


Chamamos de coerção social à força da coletividade e da sociedade sobre a vontade individual.Èmile Durkheim percebia de modo tão categórico a importância dessa orientação da sociedade sobre seus membros que chegou a usá-la como elemento definidor de fatos sociais.Para ele,fato social é aquele fenômeno que, sendo exterior ao indivíduo, a ele se impõe de maneira decisiva.Coerção passa a ser a essência da vida social e da oposição entre imdivíduo e sociedade e entre natureza e cultura.
Outros autores, entretanto,como Parsons e Clyde Kluckholn, antropólogos norte-americano, estudaram a importância da coerção exercida pelos valores introjetados pelo indivíduo e que se manifestam sob a forma de ideais que ele busca satisfazer.Não existe nesse caso nenhuma oposição entre comportamento social e individualidade.Há na sociedade inúmeros mcanismos de coerção social, os quais dizem respeito tanto à maneira como se socializam os membros de uma sociedade- introjetando valores e normas- quanto aos recursos institucionalizados de controle social.Em toda relação social existem mecanismos de punição e recompensa pelos quais orientamos nossa ação e a dos outros.Além dessa possibilidade de coerção intersubjetiva, há formas institucionalizadas de coerção que se tornam mais radicais á medida que o comportamento que se queira regular assume uma dimensão mais coletiva.Nesses casos os sistemas de controle se tornam mais eficientes e deixam menor espaço para a decisão individual.
A teoria marxista, por sua vez, desenvolveu o pricípio pelo qual as classes sociais, tendo interesses opostos em relação à vida social, disputam o poder a fim de transformar esses interesses em ordem social.Nesse caso a coerção social se dá entre a classe dominante e a classe dominada e é uma das funções do poder existente na sociedade.


CONTROLE SOCIAL


Chamamos de controle social aos mecanismos materiais e simbólicos, disponíveis em uma dada sociedade, que visam eliminar ou diminuir as formas de comportamento desviantes individuais ou coletivas.Fazem parte desses mecanismos as formas de controle responsáveis pela introjeção de normas e valores sociais e pela socialização dos membros de uma sociedade, previstas principalmente na educação formal e na informal- escola e meios de comunicação.Também cinfiguram formas de controle social as regras que orientam as recompensas e as punições existentes tanto na sociedade como um todo, presentes em seus códigos e constituições, como as existentes em cada instituição particularmente.
Os processos de orientação das expectativas, os modelos sociais, as mensagens subliminares, os processos de valorização do comportamento individual e as regras de ascensão social são alguns dos mais eficientes macanismos de controle social.Quando todos esses falham ou quando, em decorrência da ambiguidade natural das mensagens sociais, o desvio ocorre, as formas instituídas de punição tendem a reafirmar os padrões da sociedade.A perda de benefícios e da liberdade, o confinamento, a segregação e a discriminação são alguns dos mecanismos de controle social.
A possibilidade conformativa dos mecanismos de controle social se assenta na interdependência essencial das relações sociais.Sem essa reciprocidade, própria da vida social, os agentes sociais não teriam poder sobre o comportamento individual.È ela que dá o caráter social às reações de um agente sobre as ações desviantes.O superego representaria o mecanismo internalizado de controle social.


IDEOLOGIA


Vocábulo criado para designar, no século XVIII, a ciência que deveria estudar os fenômenos mentais. Em Karl Marx, entretanto, o conceito adquire novo significado, designando a falsa consciência que os indivíduos manifestam acerca da realidade que os circunda, em razão das distorções provocadas pela posição que ocupam na estrutura de classes sociais.A ideologia transforma-se, então, numa construção simbólica e valorativa que, em defesa da uma ordem social, expressa uma visão de mundo relativa aos interesses das diferentes classes sociais.Segundo Karl Marx, apenas o proletariado, como classe revolucionária, poderia desenvolver uma ideologia capaz de apreender a realidade objetiva.
Com Karl Mannheim, estudioso da sociologia do conhecimento, área da sociologia que ajudou a fundar, o conceito de ideologia perde essa rigorosa vinculação com a estrutura de classes sociais. Por outro lado, o autor admite a possibilidade dos intelectuais romperem o véu que encobre a ideologicamente a realidade.
O conceito de ideologia mescla-se, muitas vezes, à noção de crença, como um conjuto de ideias que se organizam como sistema explicativo da realidade, baseado muitas vezes na tradição e na cultura e não na verificação objetiva de seus fundamentos.Essas crenças guiariam a conduta humana, justificando-a.Esse é provavelmente o sentido que quis dar o compositor Cazuza à palavra ao criar o refrão da música "Ideologia": ideologia- eu quero uma para viver.
Aprofundando esse viés construído principalmente pelo senso comum, ideologia confunde-se também com o conceito de utopia, um conjunto de crenças sobre a realidade e a história que, por seu alto grau de idealismo, apresentam-se como irrealidades.

IDENTIDADE, IGUALDADE E DIFERENÇA

A ideia de igualdade não é uma ideia facilmente aceitável na cultura humana.Desde as mais antigas civilizações, o homem buscou suas diferenças: de origem, de nacionalidade, de classe social. Toda a Antiguidade conheceu ideologias que pregavam diferenças no interior de uma sociedade e entre sociedades. Os hindus consideravam-se originários de partes diferentes do deus Brama- pés, mãos e cabeça, de onde teriam surgido os brâmanes, o que os tornaria radicalmente diferentes entre si. Tão diferentes que nem o casamento entre eles era consentidoPara os patrícios romanos, por exemplo, um plebeu era um ser muito diferente, e um não-romano era um bárbaro. Portanto, estabelecer diferenças parece ter sido sempre uma tendência da humanidade, para, por meio delas, procurar definir a essência humana e a razão de sua existência.
Foi a partir do cristianismo que emergiu na sociedade a noção de igualdade. O principio de que todos, sem exceção, somos filhos de Deus era absolutamente novo num mundo que procurava sempre identificar um único e verdadeiro povo escolhido. Concebida a ideia da igualdade original, a ela associou-se a ideia de bondade, caridade e vontade divina.
Nos séculos seguintes essa ideia de igualdade entre os homens foi se desenvolvendo e se firmando. Os filósofos da Ilustração procuraram descobrir novos aspectos dessa igualdade - vontade, liberdade e, enfim, igualdade jurídica e civil. Sempre mais no discurso do que na ação, reconheceu-se que todos os homens têm direito à justiça, ao trabalho, à liberdade, e assim por diante.
O socialismo procurou mostrar que a estrutura de classes sociais era responsável pelas diferenças entre os homens e a causa de todas as outras desigualdades- de educação, de interesses, de consciência. Assim, lutou por abolir as diferenças de classe para que se instaurasse uma sociedade realmente igualitária. A ideia teve milhões de adeptos e muitos morreram por ela.
O capitalismo, por sua vez, responsável por inúmeras novas diferenças entre os homens, desenvolveu, por outro lado, a indústria de massa, geradora de grande homogeneização no mundo, diluindo diferenças e padronizando estilos de vida e consumo. Associada ao marketing e aos meios de comunicação, a globalização, no século XXI, é uma tendência crescente.

Feito por encomenda

Quando nasci
ou mesmo antes disso acontecer
havia uma sociedade desleal
criando um destino cruel
pra eu percorrer
e nem esperaram eu crescer
para perguntarem a mim
se era isso que eu queria ser,
de fato precaver
foi essa a intenção
pois se deixassem eu escolher meu espectro
não seria como sou
teria minha própria identidade
e essa suposta contrariedade
ao sistema social presente
seria o ato comummente
que o levaria ao caos permanente,
a minha atitude diferente
em relação ao modelo social proposto
faz com que eu seja somente um encosto
a essa estrutura hierárquica doente.

Se um só dos seus membros
propor uma quebra do paradigma social
expor a base para que haja uma sociedade
mais participativa e fraternal
isso será visto pelo poder despótico que nos rege
como algo mal
e essa minha mudança de conduta
faz com que eu represente um risco
ao sistema social
e esse mesmo nau
me vê junto as minhas ideias
como um simples animal
que deve ser combatido ferozmente
para manter a antiga ordem
intacta e uniformemente
igual,como sempre foi e talvez será
esperar, esse é o lema que nos impõe
como verdadeira doutrina
e esperando permanecemos
envelhecendo e apodrecendo na latrina
[social].

E o meu ideal
que nada,
é uma simples errata
perdida no arrebol da horda.
E nascido estou
formado e manipulado
como queriam,
me deram um nome,
uma missão, uma crença, um estado, uma religião
me deram deveres de cidadão
mas a liberdade, o livre arbítrio,onde estão?
eis a questão a ser definida,
junto a tudo isso
me deram também o ódio, a vingança, a dor
e me tiraram a vida
pois digo de imediato
que podem até tirar minha vida,
mas não a minha liberdade;
e essa minha concepção de realidade
essa busca incessante por verdade, variedade
por superação da autoridade
faz com que eu seja
um simples objeto de clandestinidade
e a sociedade, que se diz dona da verdade e da razão
que prioriza a liberdade de expressão
vive a satirizar meus trajes
e lançar ultrajes à minha opinião
e não há nada que se entenda,
o único espaço que tenho nessa sociedade
é como ferramenta, do poder sovino burguês
e na minha triste e cansada tez
desde que meu nascimento se fez
está epigrafada a mensagem que me representa:
Subalterno feito por encomenda.

Raphael Diniz