Rádio Germinal

domingo, 10 de maio de 2009

Entrevista com estudante de ciências sociais da Universidade Federal de Goiás, Carlito Dias, sobre as teorias de Èmile Durkheim aplicadas a educação .

1) A sociedade é que muda a educação? Ou é a educação que muda a sociedade? A educação é um modo de abstração, um conceito gerado pela sociedade. Nosso meio é estruturado a partir de uma educação formal, tratada como um fenômeno social, o qual trabalha com a moral e entendimentos prioritários para análise dos elementos estruturais, sendo eles existentes ou coercitivos. Portanto, ela muda todas as características que dizem respeito ao individualismo, liberdade, os quais são importantes e valorativos para sociedade. Para Durkheim a educação tem o papel de transmitir tais valores, além de propiciar conhecimento familiar. É fundamental que a sociedade se instrua sobre estes valores construídos socialmente e referenciados por ele. Portanto, a educação analisa a sociedade e contribui para a elaboração e ao mesmo tempo inovação de fenômenos sociais. Sendo assim, a sociedade muda a educação e vice-versa.

2)Os limites para a inovação educacional sempre foram os limites da sociedade? Na época de Durkheim, ele não concordaria, porque hoje contamos com a presença da internet, que propicia, por exemplo, a educação à distância. Sim, os limites da educação sempre foram os limites da sociedade, porque a educação seria a representação mais ou menos consciente de fazer um aprendizado de forma coletiva dos integrantes da sociedade. Esta última gera valores, logo ela não é a some de indivíduos e sim o resultado das relações do cotidiano ou nas estruturas organizacionais de divisão social, a chamada diferenciação. A inovação nos parece mais como um processo de estranhamento a coisas novas ou aquilo que já não está no nosso quadro ou generalizado. Enquanto fenômeno geral, a sociedade começa a perceber sua dinâmica interna e fazer uma revisão autocrítica.

3)Segundo Durkheim, a educação tem por objetivo suscitar e desenvolver, no indíviduo, certo número de estados físicos, intelectuais e morais. Mesmo com toda a precariedade do sistema educacional brasileiro, com professores desmotivados e alunos mecanizados, a educação continua desempenhando seu papel de socialização? Sim. A educação caracteriza-se pela sua forma organizacional de hierarquia, na qual incentivamos o modo de pensar, agir e sentir para determinadas situações. Ao mesmo tempo em que permite a formação instrucional, ela é altamente coercitiva. Por mais que haja esta coerção sobre o indivíduo, ele tem o direito de fazer aquilo que quer independente deste “controle”; este pode aceitar, sublimar ou ir contra esta coerção. Portanto, somos livres para fazer críticas e também para colaborar com o sistema social.

4)Como a educação pode interferir no caráter do ser social? A educação como fenômeno social, responsabiliza-se pela moldagem das pessoas; possibilitando tanto o desenvolvimento biofísico quanto o mental. Este último deve ser levado em conta pela qualidade e não pela quantidade. Nos fenômenos definidores do indivíduo, há dessimetrias, fato que nos exige consciência para agirmos de forma correta diante da sociedade. Portanto, é possível mudar o caráter pela educação, desde que se coloque pressupostos de entendimento, como por exemplo, o entendimento de não matar. Tal fator, sendo compreendido e generalizado, gerará uma coerção social futura, com a formação do caráter.

5)Analisando as condições das escolas públicas e os problemas que elas passam, Durkheim propõe algo para solucionar as várias problemáticas que a educação enfrenta? Como fenômeno coletivo, a educação deve fazer um aprendizado de forma igualitária para gerar mudanças no sistema educacional. A partir disso, a escola deve ser laica, pública, de qualidade, de preferência mantida pelo Estado, ou seja, fatores que permitem a sua diversidade e a participação da sociedade. O Estado deve priorizar o bem coletivo e dar possibilidade para a educação criar técnicas eficazes para o modo de pensar, agir e sentir, aperfeiçoando valores que são importantes ou não para a coletividade. Portanto, a educação não deve ser vista como um concerto de trajeto, visto que Durkheim a considera importante para ser analisada enquanto entendimento e abstração que o ser humano age sobre a realidade.

6)O lingüista Mikhail Baktin afirma que a escrita é um fortíssimo controle social e que a escola é o principal instrumento desse controle. Essa afirmação concorda com as teorias de Durkheim? Backtin tem um conceito de polifonia muito bonito. Primeiro, a escrita é uma técnica de abstração, de compartilhamento de informações. Portanto, ela tem o papel daquilo que chamamos novamente de coerção, no qual o português é uma língua vinculada à nossa sociedade. Cada fenômeno social e coletivo apresenta regras de comunicação e a nossa regra é uma regra chamada língua portuguesa, esta advém da capacidade coletiva de compartilhamento de signos, experiências, símbolos. Backtin nos apresenta uma limitação, uma forma de escrever baseada em signos historicamente produzidos. A língua molda formas e ao mesmo tempo torna-se irreal; ela se coloca maior que nossa explicação. A partir disso, vamos reinterpretando, mudamos a dinâmica, ou seja, trabalhamos com os modos de agir,sentir e falar a língua. Portanto, as formas do símbolos são mais ou menos coletivos, pois elas moldam e ao mesmo tempo nos dão liberdade para agir sobre elas

3 comentários:

  1. Os membros são:
    Adriane Rocha
    Jessica Gonçalves
    Jordana Cristina
    Larissa Machado
    Ricardo Henrique
    Mariele Sant'ana
    Vinícius Braga

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  2. A entrevista está boa, embora a limitação ao pensamento de Durkheim (com uma pergunta sobre Bakhtin) tenha impedido o entrevistado de avançar em outras direções. O fato de ter entrevistado um aluno também é problemático, não por ser aluno, mas pelos riscos que isso representa.

    (7,5).

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